"E um santo Anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor."
(Tob 3,25)
A fé da Igreja reconhece a existência e ao mesmo tempo os traços distintivos da natureza dos anjos. O seu ser puramente espiritual implica antes de tudo a sua não-materialidade e a sua imortalidade. Os anjos não têm "corpo" (embora em determinadas circunstâncias se manifestem sob formas visíveis em virtude da sua missão a favor dos homens, e por conseguinte estão sujeitos à lei da corruptibilidade que é comum a todo o mundo material). O próprio Jesus, ao referir-se à condição angélica, dirá que na vida futura os ressuscitados "já não podem morrer; são semelhantes aos anjos" (Lc 20,36).
Enquanto criaturas de natureza espiritual, os anjos são dotados de intelecto e de vontade livre, como o homem, mas em grau superior ao dele, embora sempre finito, pelo limite que é inerente a todas as criaturas. Os anjos são pois seres pessoais e, como tais, também eles à "imagem e semelhança" de Deus. A Sagrada Escritura refere-se aos anjos usando também apelativos não só pessoais (como os nomes próprios de Rafael, Gabriel, Miguel), mas também "coletivos" (como as classificações de: Serafins, Querubins, Tronos, Potestades, Dominações, Principados), assim como faz uma distinção entre Anjos e Arcanjos. Embora tendo em conta a linguagem analógica e representativa do texto sagrado, podemos deduzir que estes seres-pessoas, quase agrupados em sociedade, se subdividem em ordens e graus, correspondentes à medida da sua perfeição e às tarefas que lhes estão confiadas. Os autores antigos e a própria liturgia falam também dos coros angélicos (nove, segundo Dionísio, o Areopagita). A teologia, especialmente a patrística e medieval, não rejeitou estas representações, procurando, pelo contrário, dar uma explicação doutrinal e mística das mesmas, mas sem lhes atribuir um valor absoluto. São Tomás preferiu aprofundar as pesquisas sobre a condição ontológica, sobre a atividade cognoscitiva e volitiva e sobre a elevação espiritual destas criaturas puramente espirituais, pela sua dignidade na escala dos seres, porque nelas poderia aprofundar melhor as capacidades e as atividades próprias ao espírito no estado puro, haurindo não pouca luz para iluminar os problemas de fundo que desde sempre agitam e estimulam o pensamento humano: o conhecimento, o amor, a liberdade, a docilidade de Deus, a obtenção do Seu reino.
O tema a que nos referimos poderá parecer "distante" ou "menos vital" à mentalidade do homem moderno. Todavia a Igreja, propondo com franqueza a totalidade da verdade acerca de Deus Criador também dos anjos, crê que presta um grande serviço ao homem. O homem nutre a convicção de que em Cristo, Homem-Deus, é ele (e não os anjos) a encontrar-se no centro da Divina Revelação. Pois bem, o encontro religioso com o mundo dos seres puramente espirituais torna-se revelação preciosa do seu ser não só corpo mas também espírito, e da sua pertença a um projeto de salvação verdadeiramente grande e eficaz, dentro de uma comunidade de seres pessoais que para o homem e com o homem servem o desígnio providencial de Deus.
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