I. A presença dos Anjos no decorrer da vida de Santa Faustina
Santa Faustina recebeu muitas graças especiais de Jesus. Ele, seu divino Redentor e Esposo, e ela eram muito próximos um do outro. Apesar disso, ela não se fechou à presença e à ajuda que recebeu dos Santos Anjos, em particular do seu Anjo da Guarda. Muitas vezes ela se refere a eles em seu Diário. Neste primeiro capítulo queremos apenas demonstrar que os Anjos, bons e maus estavam sempre presentes em sua vida, fazendo parte dela.
Para este trabalho queremos limitar-nos exclusivamente àquilo que sabemos através de sua autobiografia, o Diário – A Misericórdia divina na minha alma, anotações sobre a sua vida interior a partir da entrada no convento.
1. O Anjo da Guarda
Santa Faustina menciona sua chamada à vida religiosa já aos sete anos de idade. Com a ajuda de Jesus consegue seguir sua vocação ao completar dezoito anos (cf. D 7-15). Já tinha amadurecido a consciência de depender totalmente de Deus em sua vida. Por isso, não considera mais nada um “acaso” e está consciente de que deve ver o dedo de Deus atrás das pequenas coisas. Iluminada por ver a Providência divina em tudo, reconhece-a também no fato de ter entrado no convento “na véspera da festa de Nossa Senhora dos Anjos”:
Finalmente chegou o momento em que se abriu para mim o portão do convento - foi no primeiro dia de agosto, à tarde, na véspera de Nossa Senhora dos Anjos. Sentia-me imensamente feliz, parecia que havia entrado
na vida do paraíso. O meu coração só era capaz de uma continua oração de ação de graças. (D 17) Pouco tempo depois disso, anota a Irmã, comentando a respeito de uma visão do Anjo da Guarda, tive problemas de saúde. A prezada Madre Superiora enviou-me, juntamente com duas outras Irmãs, a Skolimov, um pouco fora de Varsóvia, para passar as férias. Nesse tempo perguntei a 119
Nosso Senhor por quem mais deveria rezar? Jesus respondeu-me que na noite seguinte me daria a conhecer por quem deveria rezar. Vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanhá-lo... (D 20) Santa Faustina rezou a Deus e Ele lhe respondeu por meio do Anjo da Guarda. Fora então enviado por Deus. Com isso ela aprendeu que tratar com os Anjos da Guarda não ofende a Deus, pois o Anjo, sendo um “Servo do Senhor”, é primeiramente fiel a Ele. Entre os Santos Anjos e Deus não há competição.
O Anjo ajudou a Santa não apenas nos assuntos religiosos, mas também na vida cotidiana. Por exemplo: nas viagens podia verificar várias vezes a visível presença e proteção do seu Anjo da Guarda:
Parece que a promessa do Senhor nos Salmos tornou-se vida para ela:
Vi o Anjo da Guarda, que me acompanhou na viagem até Varsóvia e só depois de entrarmos no portão é que desapareceu. […] Em Varsóvia, embarcamos no trem para Cracóvia e novamente vi meu Anjo da Guarda a meu lado, absorvido em oração e contemplando a Deus e o meu pensamento o acompanhava e quando passamos pelo portão do Convento, desapareceu. (D 490)
Parece que a promessa do Senhor nos Salmos tornou-se vida para ela:
Cairão mil ao teu lado e dez mil à tua direita; mas nada te poderá atingir. Basta que olhes com teus olhos, verás o castigo dos ímpios. Pois teu refúgio é o Senhor; fizeste do Altíssimo tua morada. Não poderá te fazer mal a desgraça, nenhuma praga cairá sobre tua tenda. Pois ele dará ordem a seus Anjos para te guardarem em todos os teus passos. Em suas mãos te levarão para que teu pé não tropece em nenhuma pedra. Caminharás sobre a serpente e a víbora, pisarás sobre leões e dragões. (Sl 91(90), 7-14)
II. Os Anjos e a Divina Misericórdia
Dirijamos agora a nossa atenção à rica mensagem contida neste Diário, examinando-a pelo prisma da presença e ação dos Anjos aplicando-a à nossa vida.
1. A Misericórdia como atributo de Deus
Uma das características específicas da mensagem de Santa Faustina é o forte destaque que recai sobre a Misericórdia de Deus.
a) Tudo o que existe foi criado pela Misericórdia divina Deus, “rico em Misericórdia”, criou em seu Filho “todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1,16).
Santa Faustina afirma várias vezes que os Anjos foram criados pela Misericórdia divina, por conseguinte, a criação toda é atribuída não só à Onipotência divina, mas também à Misericórdia de Deus: Tudo o que existe saiu das entranhas da Minha Misericórdia. (D 699)
Todos os Anjos e homens saíram das entranhas da Vossa Misericórdia. A Misericórdia é a flor do amor. Deus é amor e a Misericórdia, a Sua obra; no amor se concebe, na Misericórdia se manifesta. Tudo que vejo me fala de Sua Misericórdia, até a própria justiça de Deus fala-me da Sua impenetrável Misericórdia, porque a justiça nasce do amor. (D 651) E ainda, numa reflexão explícita sobre a “Infinita bondade de Deus na criação dos Anjos” quando afirma:
Pela Vossa insondável Misericórdia chamais à existência as criaturas... (D 1741)
Se chamo criaturas à existência, é pelo abismo da Minha Misericórdia. (D 85)
2. Outros atributos de Deus Santa Faustina observa nos Anjos uma mesma atitude diante de Deus misericordioso e de Deus visto segundo qualquer outro aspecto. Pois não 127 é possível falar de um lado da Face de Deus e ignorar todos os outros atributos.
a) Procura conhecer a Deus Foi o próprio Jesus quem lhe deu a necessária instrução:
Em certo momento estava refletindo sobre a Santíssima Trindade, sobre a essência divina. Queria a todo custo aprofundar-me e conhecer quem é esse Deus... Num momento o meu espírito foi arrebatado como que para o outro mundo; vi uma claridade, que não podia compreender. E dessa claridade saiam palavras em forma de trovão e circundavam o céu e a terra. Não compreendo nada disso, fiquei muito triste. Nesse momento, do mar de claridade inacessível saiu o nosso amado Salvador em beleza inconcebível, com as chagas brilhantes. E daquela claridade ouvia-se esta voz:
‘Como Deus é na Sua essência, ninguém compreenderá, nem a inteligência dos Anjos, nem a humana. Jesus me disse: Procura conhecer a
Deus, refletindo sobre Seus atributos. Após um momento, Nosso Senhor fez o sinal da cruz com a mão e desapareceu. (D 30)Comunica-nos, num texto já referido, a idéia da “participação” dos Anjos nos atributos de Deus:
Vós os tornastes capazes de eterno amor; e, embora os tenhais cumulado, Senhor, tão generosamente com o esplendor da beleza e do amor, em nada diminuiu a Vossa plenitude, ó Deus, nem tampouco aquela beleza e amor Vos completaram, porque Vós sois tudo em Vós mesmo.
Ela conclui assim a reflexão:
E se lhes destes participar da Vossa felicidade e lhes permitis existir e amar-Vos, é unicamente em virtude do abismo da Vossa Misericórdia É em virtude da Vossa inconcebível bondade, que Vos bendizem sem fim, humilhando-se aos pés da Vossa majestade e cantando seus hinos eternos: - “Santo, Santo, Santo”... (D 1741)
Como todos os atributos divinos são apenas expressões da Sua essência, todos eles, por conseguinte, exigem sempre das criaturas a resposta como a Deus mesmo. O tempo do advento era para a Irmã um tempo de graças especiais para estas reflexões. Nesse tempo a liturgia olha para o Deus Uno, conhecido no Antigo Testamento, e conduz o homem a uma revelação maior.
Durante o Advento despertou em meu coração uma grande nostalgia de Deus. O meu espírito ansiava por Deus com toda a força do meu ser. Nesse 128 tempo o Senhor concedeu-me muitas luzes para conhecer seus atributos. (D 180)
Santa Faustina comunica-nos três destas luzes:
O primeiro atributo que o Senhor me deu a conhecer foi a Sua santidade. Essa santidade é tão elevada que tremem diante d’Ele todas as potestades e virtudes [quer dizer, poderes celestiais]. Os espíritos puros cobrem o seu rosto e mergulham em incessante adoração e têm apenas uma palavra para expressar a maior honra, isto é – “Santo”...
O Senhor concedeu-me também o conhecimento do segundo atributo – o da justiça. E esta é tão imensa e penetrante que atinge o fundo do ser e tudo diante d’Ele é manifesto em toda a nudez da verdade e nada Lhe pode resistir.
O terceiro atributo é o Amor e a Misericórdia. E compreendi que o Amor e a Misericórdia é o maior atributo... (D 180; cf. 637)Durante a adoração eu estava recitando o “Deus Santo”, por diversas vezes; então envolveu-me mais vivamente a presença de Deus e fui arrebatada, em espírito, diante da majestade de Deus. E vi como dão glória a Deus os Anjos e os Santos do Senhor. Tão grande é essa glória de Deus que nem quero tentar descrevê-la, porque não conseguiria... (D 1604).
______________________________________
Fonte: Sapientia Crucis - Titus Kieninger ORC
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Santo Anjo da Guarda nossa companhia.