O Anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem, e os salva. Sal 33, 8
No momento em que São José vem a saber que MARIA, sua esposa, estava grávida, começa a sua provação. Esta reacção podia ser mal interpretada se não for vista à luz da extraordinária virtude de São José. O evangelista não afirma tão somente que José era um homem justo, em geral, mas acentua ainda, como a qualidade de perfeita justiça estava a base da decisão que ele tomou: José, que era homem justo, resolveu deixá-la secretamente. São João Crisóstomo diz que por 'um homem justo', Mateus refere-se àquele que é virtuoso em tudo" (Tomás de Aquino, Catena Aurea, em Mt 1,19).
Os dados que São Lucas nos proporciona a respeito da relação entre José e MARIA, sugerem claramente que as considerações de José transcorriam, de facto, num plano muito elevado. Lucas dá-nos a entender que José conhecia e aceitava a decisão de MARIA de querer permanecer virgem. Para poder contrair matrimónio validamente, MARIA estaria sem dúvida obrigada a manifestar ao seu esposo a sua intenção de permanecer como uma virgem consagrada a DEUS. Prova de que ela fez isto, é a resposta que deu ao Anjo Gabriel, logo que este lhe anunciou que ia ter um filho: Como será isso, se eu não conheço homem? (Lc 1,34). Ao falar no presente, "não conheço homem", está a dar à sua declaração um sentido absoluto. A situação não é simplesmente assim, que não conhecesse nenhum possível esposo, pois já está comprometida com José. Melhor, a sua declaração evidencia a intenção de permanecer sempre virgem.
O facto de José aceitar contrair este matrimónio virginal, diz-nos muito acerca da sua profunda vida interior. Se ele mesmo não tivesse sido totalmente casto, não teria podido superar a cultura judaica, a qual via numa descendência numerosa a bênção de DEUS e na esterilidade o estigma duma maldição divina. Com um enorme amor virginal foi capaz de renunciar ao natural amor matrimonial que funda e nutre uma família (cf. Redemptoris Custos = RC, 26).
Não é que São José tivesse posto em dúvida a integridade da Santíssima Virgem, mas, antes, o próprio mistério em si que se abria diante do seu olhar, que o pôs a provação terrível. São Jerónimo assinala a este respeito que "isto pode ser considerado um testemunho a favor de MARIA; que José, convencido da sua pureza na expectativa daquilo que ia passar, cobriu com o seu silêncio aquele mistério que não alcançava explicar" (Tomás de Aquino, Catena Aurea, em Mt 1,19). A que mistério se refere? Remígio explica: "Ele percebeu que estava grávida aquela que ele sabia que era casta. E já que ele tinha lido: "Da raiz de Jessé crescerá um rebento" (ele sabia que MARIA era da tribo de Jessé), e: "Olhai, a Virgem conceberá", não duvidou que esta profecia haveria de cumprir-se n'Ela (ibid.). Sendo, além disso, o primeiro varão que estava comprometido com uma virgem consagrada a DEUS, é compreensível que José, dadas as coincidências a respeito das circunstâncias, pensasse na profecia do nascimento virginal.
Porque é que isto o afligiu tanto, que até decidiu repudiar MARIA? Em resposta a esta pergunta, Orígenes diz: "E já que ele não tinha nenhuma suspeita contra ela, como poderia então ser um homem justo e, não obstante, decidir repudiar em segredo a que era Imaculada? Pensou em repudiá-la, pois viu n'Ela um grande mistério, perante o qual se considerava indigno" (ibid.).
Diz um verso: "Era justo por causa da sua fé, sendo que acreditava que o CRISTO nasceria duma virgem. Por isso desejou humilhar-se diante de uma graça tão grande" (ibid.).
Com base nesta exegese, São Tomás diz que José tinha lido as profecias de Isaías (cf. 7,14 e 11,1), e, dado que sabia que MARIA descendia da família de David (Jessé), estava "mais inclinado a acreditar que a dita profecia se cumpriria n'Ela, a acreditar que ela cometesse adultério. E como se sentia indigno de coabitar com tal santidade, quis repudiá-la em segredo, à semelhança de Pedro, que disse: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!" (Lc 5,8)" (Sobre Mateus I, n. 117).
Lallement, resumindo, diz: "Consciente de ser o esposo comprometido de MARIA, José, com uma atitude sobrenatural, discorreu sobre a questão que se lhe apresentava: ele não via que tivesse mais alguma missão ao lado de MARIA, pois n'Ela se estava a manifestar um mistério que o superava completamente. Ele também não acreditava que tinha o direito de revelar este mistério. Por isso considerou deixar livre MARIA, da maneira mais prudente: "José, que era justo, resolveu deixá-la secretamente" (ibid.).
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