A Festa de Todos os Santos é
uma das mais importantes do ano eclesiástico. É por assim dizer a festa da
família da Igreja. Ela, a mãe dos fiéis, veste gala e entoa cânticos de alegria:
“regozijemo-nos no Senhor, hoje, por causa da festa de Todos os Santos”, é o
convite que faz no Introito da Missa. O ofício desta festa principia com
as palavras: “Adoremos ao Rei, ao Senhor dos senhores, que é a coroa de Todos os
Santos”. O dia de Todos os Santos convida-nos para lançarmos um olhar às
magníficas habitações celestes e contemplarmos as multidões dos Santos, aqueles
benditos do Pai, que se acham no reino que lhes foi preparado desde o princípio
dos tempos. (Mt. 25,334). “Tédio tenho da terra, quando olho para o céu”, dizia
Santo Inácio de Loiola. Não há espetáculo aqui na terra, por mais belo, por mais
atraente que seja, que se possa comparar com a magnificência do céu, que hoje se
abre à nossa vista. Um dia nos tabernáculos do Senhor, vale mais que mil dias
nas tendas dos pecadores. Os nossos olhos encantados vêm os anciãos levantar-se
dos tronos e depositar as coroas aos pés do Cordeiro. Exércitos intérminos de
Anjos e Arcanjos rodeiam o trono do Altíssimo e entoam cânticos de louvor e de
adoração, de uma beleza tal, como os nossos ouvidos jamais perceberam iguais
aqui na terra. Milhares e milhares de Santos de todos os povos, de todas as
nações, aparecem em vestes imaculadas, com palmas nas mãos e, dobrando os
joelhos diante do trono do Altíssimo, em profunda adoração, exclamam: “Assim
seja! Louvor e glória, sabedoria e ação de graças, honra e poder... ao nosso
Deus em todos os séculos.”
É o grande banquete que o Filho
do Rei preparou para os eleitos. Hoje o vemos rodeado dos filhos. Pois todos são
filhos, regatados pelo preço do seu sangue. Todos são herdeiros, chamados para
com ele reinarem eternamente.
Hoje os vemos na glória,
fulgurantes como as estrelas do céu.
A pátria orgulha-se dos seus
filhos, dos grandes políticos, dos gloriosos generais, dos imortais cientistas,
poetas e artistas. Com justo entusiasmo lhe declina os nomes, e ergue monumentos
de granito e bronze à sua memória. À mocidade são apresentados como modelos,
dignos de imitação. A Igreja, com muito mais razão que a pátria, se orgulha dos
seus filhos, não porque foram grandes só na vida, mas porque receberam o prêmio
da vitória, não de mãos humanas, mas das próprias mãos de Deus, e gozam de uma
felicidade, que poder nenhum lhes pode arrebatar.
São João Evangelista, a quem
foi dado ver a glória do céu, disse: “Eu vi uma grande multidão de todos os
povos.” Não compartilharmos da felicidade invejável de S. João, mas com os olhos
da fé podemos ver muita coisa que nos encanta, que nos consola e anima. As
multidões, que se nos apresentam, quem são? São as almas glorificadas de homens,
que, como nós, aqui lutaram e sofreram. A fé apresenta-nos os Santos todos como
nossos irmãos, como membros da mesma família, à qual todos nós pertencemos. Como
membros desta família, devemo-nos encher de alegria e congratular-nos como os
nossos irmãos, que já venceram o mundo, a carne e o demônio, e se acham no lugar
onde não há mais lágrimas, tristezas e dor.
Não é só a alegria de que se
enche nossa alma: a lembrança do doce mistério da comunhão dos Santos dá-nos
coragem e ânimo, para continuar sem desfalecimento na luta, que nos acompanha
até a morte. Se a nossa consciência nos dá o consolo de uma vida pura, felizes
de nós, porque o lugar nos fica reservado, entre as gloriosas virgens, para
cantar a glória do Cordeiro. Se, porém, penosamente nos arrastamos pelo caminho
da dor, do arrependimento e da penitência, Santos há, nossos irmãos, que nos
acenam animadamente e vem-nos à memória a bela palavra de Santo Agostinho: o que
ele conseguiram, será para mim coisa impossível? Os Santos e justos regojizam-se
ao verem seus modelos e protótipos como seja: S. João Evangelista, as Santas
Inês, Cecília, Catarina, S. Luiz Gonzaga, S. João Berchmans e outros, ao passo
que os pobres pecadores se animam e se consolam, vendo as figuras dos grandes
penitentes: S. Davi, Santa Maria Madalena, O Bom Ladrão, Santo Agostinho e
milhares de outros.
Os Santos orientam-nos na
penosa viagem ao céu. Não desdizendo a palavra de Jesus Cristo: “o reino dos
céus padece força”, indicam-nos os meios que devemos aplicar para chegar ao
porto da salvação. São os mesmos que eles usaram, a saber: a observação dos
mandamentos da lei de Deus, a observação da lei da caridade para com o próximo,
os mandamentos da lei da Igreja, trabalho, oração, sofrimentos e mortificação.
“Tende coragem!” – assim os ouvimos dizer – “o céu é vosso, o céu está perto,
vos está garantido.”
Desta maneira, a festa de Todos
os Santos é para nós um dia de alegria, de consolo e de animação. Os Santos
foram o que somos: lutadores e muitos entre eles, pecadores. Seremos o que eles
são: “Benditos do Pai.” Guardemos a esperança dos céus. “Quem tem esta
esperança, santifica-se.” (Jo. 3,3) “Creio na vida eterna.” Na luta, na dor, no
desanimo e na tribulação, lembremo-nos da glória que nos espera. Daqui há pouco
tudo está acabado e poderemos praticamente, em nós mesmos, experimentar a
verdade da palavra de São Paulo, quando disse: “olho algum viu, ouvido algum
ouviu, nem jamais veio à mente do homem o que Deus preparou para aqueles que o
amam.” (1Cor. 2,9)
Fonte: Emilio Angueth de Araujo - Blog Angueth
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