Quase cada página da Revelação escrita, diz são Gregório Magno, atesta a existência dos anjos. No Novo Testamento aparecem no evangelho da infância, na narração das tentações do deserto e da consolação de Cristo no Getsêmani. São as testemunhas da Ressurreição, assistem a Igreja que nasce, ajudam os apóstolos e transmitem a vontade divina. Eles prepararão o juízo final e executarão a sentença, separando os bons dos maus e formarão uma coroa ao Cristo triunfante.
Os anjos são mencionados mais de trezentas vezes no Antigo e no Novo Testamento. Além dessas referências bíblicas, que por si só justificam o culto especial que os cristãos reservaram aos anjos desde os primeiros tempos, é a natureza destes espíritos puros que estimula nossa admiração e nossa devoção.
Eles são antes de tudo os mediadores das mensagens da verdade divina, iluminam o espírito com a luz interior da palavra. E são também guardiães das almas dos homens, sugerindo-lhes as diretivas divinas; invisíveis testemunhas dos seus pensamentos mais escondidos e das suas ações boas ou más, claras ou ocultas, assistem os homens para o bem e para a salvação. “Os anjos – dizia Bossuet – oferecem a Deus as nossas esmolas, recolhem até os nossos desejos, fazem valer diante de Deus também os nossos pensamentos … Sejamos felizes de ter amigos tão prestativos, intercessores tão fiéis, intérpretes tão caridosos.”
Fundamentando a verdade de fé na própria afirmação do Redentor, a Igreja nos diz que cada cristão, desde o momento do batismo, é confiado ao seu próprio Anjo, que tem a incumbência de guardá-Io, guíá-lo no caminho do bem, inspirando bons sentimentos, proporcionando a livre escolha que tem como meta Deus, Supremo Bem.
A liturgia de 29 de setembro, que celebra Miguel, Gabriel e Rafael, lembra ao mesmo tempo todos os coros angélicos: os anjos, os arcanjos, os tronos, as dominações que adoram as potestades que tremem de respeito diante da Majestade divina, os céus, as virtudes, os bem-aventurados serafins e os querubins. Mas desde o século XVI começou-se a celebrar uma festa distinta para os santos Anjos da guarda, universalizada por Paulo V, depois que, em 1508, Leão X aprovou o novo Ofício composto pelo franciscano João Colombi. Da península ibérica, onde teve início o culto, à França e à Áustria, a festa se espalhou por todo o mundo cristão.
Texto de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini, em “Um Santo para cada dia”.
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