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"Sanctus, Sanctus, Sanctus. Dóminus, Deus Sábaoth Pleni sunt caeli et terra Glória tua. Hosánna in excélsis. Benedíctus, qui venit In nómine Dómini, Hosánna in excélsis.

Blog Santo Anjo da Guarda

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mês do Sagrado Coração de Jesus


Trago em especial hoje esta história, um testemunho de um sacerdote, que muito me tocou...
um recomeço, um sopro de amor...

PADRE "tu és o amor do coração de Jesus"!


Testemunho:

O Pe. Mirot estava calmamente sentado num banco, nos jardins das Tuilleries, em Paris, e rezava o breviário. Estava tão compenetrado na oração que nem notou que um vagabundo se foi sentar no mesmo banco. Assaltar o padre, não era o caso. Havia muita gente pelos jardins. Roubar? Também não. Enlaçou os dedos e parecia rezar junto.

O Pe. Mirot enfiou o indicador por entre as páginas, fechou o breviário rezando o Pai-nosso, olhando por sobre os óculos para a relva. Proferiu a meia voz "et ne nos inducas in tentationem" (não nos deixes cair em tentação), e o mendicante acrescentou "sed libera nos a malo" (mas livrai-nos do mal).

O pároco voltou-se admirado, e só então se deu conta do companheiro. Afável, como era, disse: "Oh, o senhor foi acólito em pequeno?" "Sim, reverendo, e mais". "Ah, talvez sacristão?" "Muito mais".

O Pe. Mirot fixou novamente o seu olhar distante por sobre as lentes, esperando uma explicação. "Eu fui padre". Por pouco o breviário não caiu das mãos do velho pároco. Os óculos escorregaram-lhe até a ponta do nariz. "Foi padre? E o que é agora?" "Agora não sou nada".

O Pe. Mirot observou o seu interlocutor. Seria um embusteiro? O vadio olhava para o chão, sentindo o olhar indagador do pároco. Sentiu ser seu dever comprovar a veracidade do que afirmava. "Reverendo, penso que estou a inventar. Não, não estou a mentir. Digo a pura verdade". Sem erro recitou o cânon da Missa e as orações que o sacerdote usa na administração dos santos Óleos. A seguir dissertou com competência sobre a posição da doutrina teológica do jesuíta Molina, tema sobre o qual discorrera esplendidamente como estudante de teologia.

"Basta, basta! De fato, o senhor é padre". O Pe. Mirot passou a tratá-lo por 'reverendo', pois no seu modo de ver, o carácter sacerdotal é indelével. "Ah, meu pobre confrade, como é que tudo isso aconteceu?" O outro respirou profundamente, e começou a contar:

"Nasci num lugarejo provinciano. O meu pai confeccionava escovas. Teve sete filhos. Eu era o mais novo. A minha mãe fez a promessa de consagrar-me ao serviço de DEUS. Desde que comecei a pensar, falava disso. Quando me perguntava sobre se eu gostava, afirmei sempre 'sim'. Em parte por respeitar padres, mas também por saber que a mãe gostava de ouvir tal resposta, e, por isso, me tratava bem. Devo dizer que o plano da mãe não era só a glória de DEUS, mas também a promoção dela aos olhos dos outros. A sua pretensão firmava-se mais ainda por eu ser talentoso. No liceu, excepto na matemática, eu era o primeiro em tudo. O meu procedimento era exemplar.

Nas férias em casa, porém, eu sentia um fascínio magnético pelo mundo. Tinha sérias dúvidas sobre a vocação. Resolvi abrir-me com a minha mãe. Com prudência, ao passear, comecei a falar claramente. Ela ficou transtornada. O seu olhar desvairado, brilhava como o de uma alucinada.

Cortei o assunto e puxei outro. Apavorado, reconheci ter esperado demais. E agora? Abrir-me com o director espiritual do seminário? Não tive coragem de lhe causar tamanha desfeita, eu era 'o melhor' do seminário.

Antes das ordens sacras abri a minha alma a um colega e supliquei-lhe que fizesse a minha mãe perceber. Nas férias veio visitar os meus pais, e explicou o caso à minha mãe 'que achava que não seria feliz no sacerdócio'. A mãe ficou fora de si, a espuma veio-lhe à boca, e precisou até de ser acudida por outras pessoas.

Este colega veio informar-me: a meu ver só há duas possibilidades para o teu caso: um dos dois será infeliz, ou tu ou a tua mãe. - Ao que eu respondi: então eu serei infeliz. Serei ordenado, e consolar-me-ei em perder-me na correnteza do activismo e assim aguentarei.

Mas tornei-me um mau padre. Caí, fui suspenso do uso de ordens. Felizmente a mãe não sofreu esta vergonha. Não me submeti às ordens dos meus prepostos. Pendurei a batina e escolhi a liberdade. Procurei a liberdade e caí na escravidão. Fui rolando degrau a degrau.

O padre pôs as mãos no rosto e chorou. O pároco Mirot olhava meditativo em frente. As suas feições tornaram-se tristes, os olhos húmidos. Ele sabia, havia aí muito a perguntar e a falar. Não lhe convinha tocar desnecessariamente na dolorosa ferida. - Uma pergunta, contudo, não pôde deixar de fazer: "E depois de chegar a conhecer o mundo, por que não voltou arrependido?" O padre caído respondeu:

"Mil são os caminhos para o reino do pecado. Um só é o caminho da virtude. É o caminho estreito. A porta é apertada. Nem todos têm a disposição do filho pródigo, e nem todos têm um tal pai. Ao menos eu não tinha a esperança de encontrar um assim. De um monte abrupto e liso escorrega-se num ápice. Mas tornar a subi-lo... como custa! Tentei, quantas vezes! Foi em vão. Quando o diabo tem uma vez uma alma nas garras, não a solta facilmente. Luta ferozmente por ela. E se se trata de uma alma sacerdotal, então, põe todas as potências infernais em movimento".

"E como é que veio abrir-se comigo?" - "Eu observei-o de longe, durante algum tempo, como aliás costumo observar os padres que se cruzam comigo pelo caminho. Uma voz íntima animava-me: vá, confia neste padre. Ele vai ajudar-te. Talvez tenha sido a voz do meu Anjo da guarda. Eu rezo-lhe todos os dias. - E se pudesse mais uma vez começar do princípio... Seria outra coisa!"

O Pe. Mirot reflectiu uns instantes. Então, com alegre energia disse: "Voçê pode começar mais uma vez desde o início. Vou ajudá-lo". Ao padre decaído providenciou roupas, casa e trabalho, ajudar, fazer recados, trabalho de escritório, dar aulas.

Passado um ano, o vagabundo regenerado tornou-se sacristão e apóstolo leigo. Com santo zelo e sucesso trabalhava entre os andarilhos e mendigos. Dominava a gíria deles, conhecia os seus costumes e vícios, o seu sofrimento e tentações. Sabia a saudade que lhe ia no coração e na alma. Muitos e muitos pecadores trouxe de volta a CRISTO.

No terceiro ano entrou num convento, como irmão religioso. Aí, também a sua actividade foi exemplar, deixando os outros na sombra. Parecia um guerreiro, que no início, covardemente, tinha desertado do campo da luta, e que retornava mais aguerrido. Após mais um ano de comprovação, foi recebido no convento como Pe. Ludovico.

O Pe. Mirot fica como que transfigurado, cada vez que a ele se refere. "Poder ter estendido a mão e ajudar um padre decaído, dá-me tanta alegria, que preciso rejubilar. Se na minha vida não tivesse feito outra coisa além isso, seria o suficiente para mim".

O primeiro a preparar o caminho da conversão, porém, foi o Anjo da guarda. A ele a mais profunda gratidão.












(Do livro: A. M. Weigl, "Convivendo com a Anjo da Guarda, Edições Rosário, Curitiba, BR, 1996)











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