É um tempo tão silencioso, o santo Advento, um silêncio no Céu e no ano litúrgico. As flautas dos pastores ainda dormem, a estrela do Natal ainda não se levantou.
As semanas de espera nas quais aguardamos com perseverança a chegada do Redentor. Um tempo que toca o coração como nenhum outro; é um tempo repleto de uma ânsia (saudade) infinita. Milhares de vozes se elevam nas orações da Igreja e clamam, clamam... Milhares de olhos procuram na distância vasta e escura, para ver se Ele ainda não chegou... Mãos se estendem e suplicam... Os corações se abrem largamente e pulsam em anseios profundos e santos...
Ânsia e clamores sem fim sobem das orações da Igreja, às vezes como pedidos insistentes do mais profundo da alma: “Vós guia de Israel, vinde!” Outras vezes como que vindo de grande dificuldade e sofrimento: “Ó Senhor, eu Vos suplico enviai aquele que quereis enviar, vede a miséria do Vosso povo, vinde assim como prometestes!” Algumas vezes soa como cheio de medo, quase violento, impaciente: “Apressai-vos, Senhor, não vacileis, libertai o Vosso povo! Vinde, Senhor, não tardeis!” E então novamente soam palavras comovedoras, como quando alguém, tomado de grande pavor, encoraja-se a si mesmo: “Ó, certamente, o Senhor virá... E naquele dia brilhará uma grande luz... Ele vem com força e poder real...” Vozes sussurram misteriosas, prometendo: “Tende confiança, Eu venho, Vosso Senhor e Deus, e vos conduzo para casa... Como uma mãe consola os seus filhos, assim Eu quero consolar-vos... Deveis procurar e o vosso coração há de se alegrar!” E então, de repente, se eleva o júbilo luminoso, como de um coração que por muito tempo sofre angústia, de repente de algum lugar das profundezas do coração sobe uma certeza bem-aventurada: “Vós árvores, estendei largamente os vossos ramos, florescei e produzi frutos, pois não tarda muito e vem o dia do Senhor...”
Assim ressoa através de todas as semanas do Advento, de modo cada vez mais impetuoso. Uma ânsia irrompe do coração do homem, tão grande, que é como se ela tivesse que vencer Deus e forçá-Lo naquilo que ele quer.
Até o dia de Natal as palavras ressoam: “Vede, agora é a plenitude dos tempos, quando DEUS enviou o Seu Filho à terra... Por causa do seu imenso amor, com o qual Ele nos ama."
Sim, o tempo no qual agora vivemos é um tempo de anseio, um tempo no qual uma saudade sem limites e nem fim irrompe das profundezas do coração.
Mas, um anseio, uma saudade de que? Uma ânsia de que? Do Redentor, da luz de Cristo, da plenitude de Cristo e da Sua Paz. Assim clamam as muitas preces da Igreja.
Mas o Senhor está aqui! Ele já apareceu!
E, no entanto, se clama e se suplica para que Ele venha, como se fôssemos ainda pagãos! Como se Isaías falasse ainda aos homens do Antigo Testamento. Assim diz-se sempre: “Vinde, Senhor, vinde para o Vosso povo.” O que significa isso? Quem é este?
Pode Ele já ter vindo e no entanto não ter vindo?
Ele pode estar aqui e ao mesmo tempo estar longe?
É possível possuir e sentir a falta e ao mesmo tempo ansiar (ter saudade)? Sim, isso é possível! E com certeza todos vós já experimentastes isso.
Como podemos crer em DEUS – e depois clamar: “Senhor, ensinai-me a crer!” Como podemos conhecer o Redentor – e no entanto desejar do mais profundo do coração: “Senhor, abri os meus olhos para que eu possa reconher-Vos!” Como é possível receber o Senhor na Santa Comunhão – e mesmo assim sentir com a alma faminta o quanto Ele está longe de alguém. Como é possível ser cristão – e, no entanto, poder sentir com todas as fibras do seu ser: “Eu não o sou de fato!” Por isso, de quando em quando, irrompe da alma esta ânsia com dolorosa violência: “Senhor, vinde, vinde!”
Isto é o Advento, o tempo do anseio, da saudade. Este é o tempo no qual somos justamente nós mesmos: homens pobres, despedaçados.
O tempo de Advento, também, é o tempo de preparação para a nossa Redenção! Nos Santos Livros do Antigo Testamento estão os testemunhos de DEUS para a colaboração dos Santos Anjos na Obra da Redenção. O Povo Eleito, ao qual fora prometido ser a origem do Messias, é constantemente acompanhado pelos Santos Anjos, para que ele não perca totalmente a fé no Redentor, apesar de tantas vezes se mostrar obstinado e rebelde.
Como uma luz clara o Anjo se mostra aqui e ali: assim junto dos grandes personagens bíblicos: como Abraão, Jácó, Davi, Daniel, onde o Anjo já indica claramente a chegada do Messias (cf. Dan. 12; fala de S. Miguel e os tempos messiânicos), assim como com a maioria dos outros profetas. Os S. Anjos são aqueles que preparam a obra preparatória de DEUS, são eles que anunciam a Boa Nova de DEUS sobre o Messias, são eles que então na Noite Santa de Natal rejubilam-se com a primeira vinda de JESUS.
(ROMANO GUARDINI, Predigten zum Kirchenjahr)